quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Artes e Música nas escolas - para quê?

Arte e Música nas escolas
Quase sempre quando se pergunta para que serve o estudo de Artes nas escolas se chega a uma resposta: para distrair e descansar das outras disciplinas. Opa! Será isso mesmo? E então agora que teremos também o ensino musical? Será mais uma matéria para distrair e descansar?

Artes, ou Educação Artística, em suas diversas linhas como Dança, Teatro, Cinema, entre outras, e Educação Musical são componentes curriculares que propõem um aumento qualitativo no ensino e consequente melhor formação das pessoas. Além disso, são matérias também relevantes para a formação de pessoas com necessidades especiais. Conjuntamente com as matérias chamadas úteis como Matemática e Português, por exemplo, as aulas em diferentes áreas artísticas são necessárias na medida de, como dito antes, promoverem melhor formação das pessoas; mas como?

Essas matérias são importantes ao conduzirem as pessoas a um mundo chamado criativo. Em síntese toda manifestação é criativa, tudo está sendo criado constantemente, mas especificamente no caso das áreas artísticas o que se obtém, comprovadamente, é uma maior utilização da imaginação. Essa atitude de se criar melhor embasamento na área imaginativa das pessoas possibilita, por exemplo, novas conquistas na área de design de produtos e mesmo na transmissão de informações, como no caso da publicidade – que, apesar de ser um meio quase sempre visto como comercial conta, também, com a característica de ser plausível de utilização ideológica ou pessoal.

A imaginação é base para transformações, sejam tecnológicas, sejam sociais, sejam educacionais ou ainda investigativas. Que seria da humanidade se não houvesse criatividade? Possivelmente ainda estaríamos na Idade da Pedra.

Também se sabe que a área artística pode ser um recurso interessante na inclusão de pessoas com necessidades especiais. Muitas pessoas desenvolvem-se muito bem em várias áreas artísticas sendo cegas, surdas, portadoras de mobilidade reduzida ou mesmo de nível mental com características especiais. Aliás, ao se tentar padronizar as pessoas como sendo portadoras de necessidades especiais não se está dizendo – ou não deveria se estar dizendo – que essas pessoas têm alguma característica inferior; em realidade o que há é uma ou mais características que a tornam mais apta a realizar certas atividades. Ninguém é melhor ou pior por ter nascido deste ou daquele jeito – e há de se lembrar que o futuro é o instante seguinte e, dele, nada sabemos – portanto o que temos a fazer é sempre procurar aprender com quem já possui, por exemplo, força de vontade para realizações; mesmo que essas realizações pareçam super-humanas. Devemos ter cuidado com o preconceito de achar que por alguma pessoa “deficiente” estar realizando uma tarefa ela é uma sobre-capaz. Não é bem assim; é simplesmente a sua vontade de realização que a torna capaz. O que incomoda e muito as pessoas chamadas “deficientes” é o sentimento de pena que as pessoas chamadas “normais” costumam ter. Ao invés de chamarem-se as pessoas de deficientes por que não se as chama de eficientes? Sempre seremos eficientes em algo e deficientes em outras coisas. Afinal então quem é deficiente?

Complementando a área de Educação então com as disciplinas artísticas o que criamos é uma sociedade mais apta a produzir inovações, sejam em Artes em geral ou outras áreas do conhecimento. A segmentação em “disciplinas” é uma invenção de alguns séculos apenas. O ensino se feito de maneira mais ampla possibilita ao indivíduo que ele torne-se um ser mais bem preparado para as diversas situações que enfrentará ao longo de sua existência.

Voltando para o ensino, pode-se perguntar então, se a área artística é uma área importante da formação humana, como isso não é bem visto pelas pessoas em geral? O que se tem de informação é que o ensino dessas áreas requer pessoas bem capacitadas para sua transmissão e também uma política de aplicação em que não fique restrita à área escolar. Com mais espetáculos, mais exposições, mais fontes de apreciação artística, se criará uma sociedade que, de fato, poderá apreciar e desejar apreciar Arte. E, consequentemente, o ensino de Artes poderá ganhar mais qualidade e mesmo desejo de aprendizado. Afinal o Brasil, inclusive, é um país dotado de grande qualidade cultural. Nossa formação com povos nativos e de várias origens do planeta torna-nos únicos. Nem se pode dizer que nosso país é uma colônia cultural como se tenta rotular, pois em grande parte o que ocorre é a exportação de nossa produção material e imaterial artística.

Exemplo de boa qualidade para finalizar? Um trecho da bela letra/música “Rosa”, de Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha:

“Tu és, divina e graciosa estátua majestosa
do amor, por Deus esculturada
e formada com o ardor,
da alma da mais linda flor, de mais ativo olor
e que na vida é a preferida pelo beija-flor.”

Qualidade artística brasileira e internacional. Que possamos conduzir a Educação escolar artística em conformidade com laços cada vez mais auspiciosos e produtivos. Que a Arte e a Música sejam enfim tomadas como realmente necessárias às pessoas.

(publicado em: http://otrampolim.com.br/ler_noticia_colunista.php?catn=3&uid=214 - 20 de Janeiro de 2010 - Salto/SP)

Ilustração que fiz para esta postagem: "Arte, Música, Escola, Acessibilidade" - 2010.

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